Roosevelt Livre

logo-roosevelt_livreEm defesa dos espaços públicos, abertos, livres e desmilitarizados é que o Coletivo Arrua e outros grupos defendem ao iniciar o Roosevelt Livre, uma ocupação permanente da Praça Roosevelt, sempre às quintas, às 19 horas. A proposta é realizar rodas de conversa, música, oficinas abertas, desenvolvimento de projetos, ações lúdicas, apresentações artísticas ou o que mais der na telha.

Os eventos são divulgados no facebook através da página do Coletivo Arrua

Para democratizar a proposição de temas, e gerar sinergia entre as ações de diversos coletivos, foi criada uma agenda compartilhada de eventos, para que qualquer grupo possa propor atividades na praça. Clique aqui para acessar a agenda.

O Roosevelt Livre surgiu a partir de duas graves violações do direito à liberdade de manifestação. A primeira ocorreu em 07 de junho, quando a Guarda Civil Metropolitana e a Polícia Militar, impediram a realização do Festival Contra a Violência Policial, organizado pela campanha Por que o senhor atirou em mim? A segunda aconteceu menos de um mês depois, em 1º de julho, quando centenas de policiais da tropa de choque da PM tomaram a praça numa atitude de provocação e tentativa de intimidação, a ação terminou com ativistas presos, sendo dois advogados.

Para a primeira ocupação, realizada no dia 09 de julho, foi publicada a convocatória abaixo, que pede o direito à livre manifestação:

 

A PM não decide o que fazemos ou deixamos de fazer no espaço público 

Este texto é um convite à indignação e um convite à ação. Indignação pois o que aconteceu no dia 1º de julho de 2014 na Praça Roosevelt não é apenas mais um evento entre os diversos de repressão às manifestações que vem ocorrendo desde junho do ano passado. A população tem o direito sim de discutir publicamente suas forças de segurança, e a polícia não tem o direito de decidir o que é debatido no espaço público. Mais uma vez para que fique claro: A polícia não tem o direito de decidir o que é debatido no espaço público. 

O cancelamento na última hora da autorização, inesperado e inexplicado, do show de encerramento do Festival Contra a Violência Policial no dia 07 de junho, também na Praça Roosevelt, somado ao que aconteceu neste primeiro de julho, significam um passo a mais na repressão. Significam que a polícia não está mais contente em apenas reprimir violentamente manifestações nas quais pode ou não vir a acontecer algum tipo de violência contra patrimônio particular, ou fechamento de vias públicas. A polícia militar agora se sente no direito de decidir se pode ou não acontecer um debate pacífico, no qual não existia nenhuma possibilidade de depredação de nada. Por que a polícia com um contingente absolutamente excessivo e desnecessário dada a natureza do evento, com mais de 20 cavalos e 500 policiais, decidiu inviabilizar o debate colocando cinco policiais em frente ao palco e prendendo dois advogados que meramente perguntaram à um tenente o motivo do efetivo estar sem identificação dos nomes? Por conta do tema do debate: o debate questionava exatamente a legalidade da prisão de Fábio Hideki e Rafael Marques e, consequentemente, a ação da polícia.

Por que este evento entre tantos outros com mais repressão, mais feridos, mais violência e mais presos, é de singular importância? Porque a polícia decidiu, pela segunda vez no período de um mês, que um evento pacífico e em espaço público não tinha o direito de discutir a ação da polícia. E a discussão da ação da polícia é central para modificar todos os possíveis futuros eventos nesta questão. 

Para os que gostam de dividir, com afirmações como “na periferia é pior a ação da polícia”. O argumento a ser falado é muito simples: Se não se pode sequer discutir a desmilitarização e as ações da polícia na Praça Roosevelt, a possibilidade da ação da polícia na periferia se modificar é zero. 

Temos de deixar mais claro: as práticas que vem acontecendo são práticas típicas de períodos ditatoriais. 

Ditadura é exatamente quando apenas os poucos que detém o poder e o uso da força policial podem discutir e decidir as questões que afetam a todos. Ditadura é quando a população não pode discutir as ações das forças de segurança que sustentam com impostos justamente para protegê-la e para fazer com que a lei seja cumprida. Ditadura é quando qualquer um que tenha divergências é imediatamente rotulado de “rebelde”, “terrorista”, “vândalo” e deixa de ser considerado e tratado como “cidadão”. Ditadura é quando as pessoas, como o Amarildo, somem por ações da força do Estado. Ditadura é quando repórteres são agredidos no exercício de sua profissão, e ninguém é punido por tal ação. Ditadura é quando a polícia se sente no direito de jogar uma bomba de gás dentro do domicílio de um cidadão devido apenas a este estar filmando a ação da polícia, como aconteceu em junho de 2013, e ninguém é punido por tal ação. Ditadura é quando as pessoas são presas por portar um ingrediente de cozinha absolutamente inofensivo, como o vinagre, justamente para se proteger da polícia. Ditadura é quando as pessoas são presas para averiguação antes de tomar qualquer ação, como aconteceu com 262 pessoas no ato de 22 de fevereiro no centro de São Paulo, abolindo-se a presunção da inocência, sendo todos julgados culpados de antemão pela polícia, que não tem o direito de julgar ninguém. Ditadura é quando as forças de segurança se sentem no direito de reprimir, coibir ou evitar qualquer evento de qualquer grupo que ela, e não a lei, considere contrário a ordem, como aconteceu neste 1 de julho em São Paulo. Não vivemos uma ditadura, mas estamos assistindo a uma ascensão de práticas ditatoriais por parte das forças de segurança, e isso é muito preocupante. Se você está indignado com todos estes eventos, saiba que não está indignado sozinho. É hora de coletivamente manifestarmos nossa indignação. 

Da mesma forma que a mídia, a polícia, ou absolutamente qualquer cidadão pode discutir, e concordar ou discordar, com as diversas manifestações que vem ocorrendo no país; quem quiser pode, e deve, discutir publicamente as ações das forças de segurança. 

Circula de forma cada vez mais forte um discurso no senso comum que confunde ordem com silêncio. A ausência de manifestações não é ordem, é ditadura. 

Democracia é quando todos, absolutamente todos, estão submetidos apenas às leis discutidas e aprovadas por representantes diretamente pela população. Do Presidente da República ao morador de rua, do morador de periferia ao comando da polícia militar. 

Ao comando da polícia militar do estado de São Paulo dizemos que não nos intimidamos com sua ação na Praça Roosevelt na noite do dia 01 de julho e que, enquanto este for um país livre, nos reuniremos onde quisermos para discutir o que quisermos. O que está em questão aqui não é o tema e pauta de cada ato, é o direito à manifestação e ao debate.

Ao conjunto da esquerda, aos movimentos de luta por terra, por moradia, de luta das mulheres pelo fim do machismo, de luta contra a homofobia, aos coletivos de cultura digital, às ocupações, aos movimentos de bairro, partidos políticos, grupos apartidários, coletivos culturais, associações profissionais, militantes de direitos humanos, militantes na questão do meio ambiente; pedimos que lembrem que muito tombaram exatamente para que pudéssemos discutir em espaço público nossas pautas. E que perante esse conjunto enorme de fatos autoritários recentes, lembrem da velha solidariedade entre diversas pautas daqueles que lutam por um mundo mais justo. Que reflitam que a questão é mais de fundo, que esta ascensão autoritária prejudica simplesmente a todos que querem transformações, e que não vejam os integrantes das manifestações de passe livre ou contra a copa apenas como “outros”. 

O convite é simples: a todos que estão indignados com todos estes fatos, vamos mostrar, no dia 09 de julho de 2014, a partir das 13hs na Praça Roosevelt, cada um trazendo suas práticas, saberes e discursos, num ato com mil atos dentro, que podemos sim nos reunir no espaço público para discutirmos o que quisermos e que o direito ao debate e à manifestação são centrais no direito à luta por um mundo melhor.

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